Jack começou sua carreira nos anos 50 e trabalha até hoje, ou seja, são dezenas e dezenas de filmes. No entanto, existem alguns filmes que são indispensáveis para saber o porquê dele ser considerado um grande ator. Vou indicar cinco deles.

Cada Um Vive Como Quer (1970)

     Depois de ser indicado ao Oscar com “Easy Rider”, mas por ator coadjuvante, Jack voltou a atacar no ano seguinte sendo indicado para o Oscar de Ator Principal, com esse filme. Embora não seja tão conhecido quanto os outros filmes da lista, “Cada Um Vive Como Quer” fez sucesso na época em que foi lançado por incorporar na história certas inquietações típicas dos anos 70.

     O protagonista, apesar de ter nascido em berço de ouro, abandona sua vida na classe alta para zanzar pelo mundo, indo de emprego a emprego, sem conseguir se encaixar em lugar nenhum ou ter uma relação amorosa estável e satisfatória. Essa trama existencial, no entanto, é levada com relativa leveza por Bob Rafelson, responsável por “Os Monkees estão de Volta” (1968) e “O Destino Bate à sua Porta” (1981), este último também com Nicholson. E isso torna o filme, ao mesmo tempo, angustiante e esperançoso.

Chinatown (1974)

     Dessa vez Jack foi dirigido por Roman Polanski, em um filme que hoje em dia sempre é citado como um exemplo de bom roteiro (ganhou o Oscar). Embora também seja exemplo de boa direção, boa atuação, boa direção de arte e etc. O papel de J.J. Gittes se tornou ícônico, levando o ator a estrelar e dirigir uma continuação, muito pior, desse filme, em 1990, chamado “A Chave do Enigma”.

     Ao mesmo tempo uma revisão e uma homenagem ao cinema noir, Chinatown consegue aliar a história de detetive com um retrato da Los Angeles dos anos 30, enfocando o problema do fornecimento de água e a corrupção que tinha se infiltrado nas mais altas esferas do poder. No final, percebe-se que a corrupção, encarnada pelo personagem interpretado por John Houston, não afeta apenas a política, mas a vida íntima das pessoas, promovendo uma verdadeira inversão de valores e da moral.

Profissão Repórter (1975)

     Depois de trabalhar com americanos e poloneses, Jack se aventurou em um filme-cabeça dirigido pelo diretor italiano Michelangelo Antonioni. Antonioni, para quem não sabe, compõem a Santíssima Trindade do Cinema Italiano, junto de outros dois gigantes: Fellini e Visconti. Alguns, no entanto, não hesitariam em tirar Visconti dessa Trindade, substituindo-o por Roberto Rossellini, eu incluso.

     No filme, Nicholson interpreta um correspondente de guerra enviado para a África que, ao encontrar o corpo de um falecido traficante de armas em um quarto ao lado do seu, assume a sua identidade. No entanto, o que impressiona, antes de mais nada, é a brilhante mise-en-scène de Antonioni, em um de seus momentos mais inspirados. O último plano do filme, um plano-sequência de alguns minutos, é magistral.

Um Estranho no Ninho (1975)

     Jack Nicholson ganhou o Oscar com esse filme. Depois iria ganhar duas vezes mais, com “Laços de Ternura” (1983) e “Melhor é Impossível” (1997). Mas o primeiro Oscar a gente nunca esquece e, dos três filmes, é o melhor. Ao lado de uma pletora de atores coadjuvantes de primeira linha, como Danny DeVito, Christopher Lloyd, Brad Dourif, Scatman Crothers, Louise Fletcher e Michael Berryman, Jack toca o terror no sanatório.

     A história gira em torno de McMurphy, um homem que, para escapar da cadeia, finge-se de louco e acaba caindo em uma Instituição que mais parece uma prisão. Na tentativa de deixar o ambiente menos opressivo para ele e seus “companheiros”, McMurphy bate de frente com a enfermeira-chefe do local, interpretada por Louise Fletcher, dando a todos, no final do filme, a impressão de que, para McMurphy, ir para cadeia até que não teria sido tão ruim.

O Iluminado (1980)

     Para acabar a lista dos cinco, vamos de Stanley Kubrick, nessa adaptação do livro de Stephen King. Foi nesse filme que nasceu o Jack Nicholson “careteiro” que hoje nos brinda com sorrisos forçados, sobrancelhas arqueadas e uma entonação de voz que vai do sussurro malicioso ao urro de maluco. Os detratores chamam isso de “overacting” e os fãs chamam de estilo.

     A questão é que, nesse filme, o estilo de atuação de Nicholson faz todo o sentido e compõem muito bem com a direção calculista de Kubrick. É como se Nicholson fosse a parte “quente” do filme e Kubrick a “fria”. Estamos diante, assim, de uma “ducha escocesa” cinematográfica onde um protagonista que parece ter emoção de mais é encurralado por um diretor que vê a sua queda com frieza e mordacidade. Na soma final, mais uma obra-prima com Jack.

     E aí, discorda da minha lista? Se discorda, comente e diga que filme do bom e velho Jack está faltando! Não sofra em silêncio!